Uma cidade auto-suficiente é possível?

  


    Tenho planejado há algum tempo, um novo conceito de cidade, que seja possível de ser executado, porém, a minha ideia é que esta cidade seja de fato auto-suficiente, não dependa de nenhum recurso externo, não gere poluição, e preserve a natureza, seria este um conceito possível? Bom vou resumir aqui a ideia, e nas postagens seguintes podemos nos aprofundar e discutir cada tema com mais atenção.

    Alguns pontos que tenho estudado sobre este assunto, são definir qual a menor estrutura urbana sustentável possível de ser replicada, como se fossem módulos, ou as estruturas hexagonais de uma colmeia de abelhas. Qual seria a quantidade mínima de habitantes para que todos os serviços essenciais sejam prestados, quais seriam os serviços mínimos necessários, quanto de alimento precisaria ser produzido, quais alimentos, etc...

    Outro ponto importante, é como a tecnologia e automação podem colaborar neste sistema, num módulo planejado, toda a logística por exemplo, pode ser automatizada, robôs, esteiras, drones, enfim... Os meios de transporte podem ser reestruturados, para que veículos à combustão não tenham acesso à parte interna da cidade, ficando apenas no estacionamento. Neste ponto podemos ressaltar a micro-mobilidade, veículos de propulsão humana ou elétrica, autônomos ou não, quem sabe "elevadores" transitando na horizontal?

    Claro que para um projeto deste nível, muitas coisas precisam ser repensadas, reaproveitamento de água da chuva, reciclagem, reutilização, destino de lixo orgânico (que pode ser utilizado na produção de gás, adubo, entre outros) produção de energia solar, eólica, ou até mesmo hídrica, se houver o recurso no local. A captação de água da chuva seria suficiente para abastecimento ininterrupto para toda a cidade, ou ainda seria necessária captação do recurso por outros meios?

    Enfim, são muitas perguntas, pra uma quantidade ainda maior de respostas. Ainda acredito que a maior barreira ainda é a regulação, num país com tantas regras complexas e tão engessado quanto o nosso, penso que a melhor saída para um projeto deste porte, seria que toda esta cidade fosse privada, sim, uma empresa! Onde cada habitante seria um funcionário desta empresa, explico o porquê: Numa situação normal, durante a 'vida útil' de algum produto, ele é tributado diversas vezes, por exemplo, na compra das sementes, na compra dos insumos, na venda para o comércio, durante a manufatura, embalagens, rótulos, mão de obra, venda ao consumidor, e até durante a reciclagem posterior, este produto foi tributado, ou seja, tudo em nosso país tem uma carga tributária muito grande, porém, acredito que, se algo é produzido, manufaturado, repassado, consumido e reciclado dentro da própria empresa, pode-se reduzir muito esta carga tributária, permanecendo apenas o imposto sobre a renda de cada indivíduo, sendo esta mais que suficiente para alimentar nosso governo, ele fazendo ou não um bom proveito do recurso.

    Com isso, a cidade/empresa teria uma autonomia maior sobre o desenvolvimento das atividades básicas necessárias para ser sustentável e, falando sobre necessidades básicas, outros pontos poderiam também ser repensados, como por exemplo, o sistema de ensino! Acredito que o sistema utilizado hoje em nosso país está ultrapassado, foi planejado para uma época onde era necessária uma grande quantidade de profissionais para o setor industrial, mas hoje tem sido um grande causador de uma sobrequalificação, têm saturado o mercado e ampliando o desemprego de cima para baixo, onde começam a sobrar profissionais qualificados em cargos mais altos, e estes começam a descer, causando assim uma desvalorização de todas as profissões, e maior desemprego nas áreas de base.

    Pensando nisso, tentei encontrar uma solução que encaixasse o sistema de ensino de forma atual e eficiente dentro do nosso conceito de cidade, e cheguei no seguinte modelo, onde cada "empresa" dentro da cidade, teria um setor de ensino, por exemplo, dentro da padaria, teria um profissional de ensino, que receberia os alunos que tiverem interesse pelo setor, e faria um acompanhamento personalizado deste aluno, na forma de um planejamento de carreira talvez, algo que desperte a criatividade e curiosidade do aluno pelo setor, tornando o professor um conselheiro, e "ensinando o aluno a aprender". Desta forma, o ensino não seria mais linear, mas sim personalizado para cada indivíduo, não teríamos mais uma descarga de profissionais com os mesmos conhecimentos e sem experiência alguma no mercado de trabalho.

    Exemplificando a trajetória de dois alunos deste novo sistema, um iniciou seus estudos em uma oficina mecânica, pois era apaixonado por corridas e queria aprender mais sobre está área, nesta oficina ele aprendeu muito sobre a física aplicada em automóveis e motores, a química da combustão, a administração financeira de um escritório, o controle de estoque de peças e a da produção dos funcionários, além de negociar com fornecedores, atendimento à clientes, etc... mas depois desta oficina, o nosso primeiro aluno acabou se desenvolvendo e se encaminhando para a parte de logística, onde a parte física dos prédios que compunham a oficina, o levaram à estudar sobre construções metálicas, e ele acabou se formando em engenharia civil. Que reviravolta não?
    Pois bem, o segundo aluno, muito diferente do primeiro, iniciou seus estudos na área de produção de alimentos, estudando sobre permacultura, plantio de frutas, onde ele aprendeu sobre reaproveitamento do lixo orgânico, uso consciente dos recursos hídricos, administração dos insumos e manejo da terra, deste local, ele evoluiu e foi estudar na padaria que citamos agora a pouco, onde aprendeu técnicas de industrialização e manufaturamento, a produção dos alimentos em si, automação de processos, robótica e inteligência artificial, mas a experiência na padaria acabou o levando à uma cafeteria, onde ele se encantou pela arquitetura das cafeterias gourmet, e posteriormente o levou à uma formação também em engenharia civil.
    Notaram como temos dois alunos recém formados na mesma área, mas com vivências, experiências e trajetórias completamente diferentes? E ainda mais, não são apenas mais dois recém formados jogados no mercado de trabalho, mas são dois profissionais com a vivência de diversas áreas, com currículos muito diferentes, que podem ajudar de formas muito diferentes em um mesmo cargo profissional, ou empreender em qualquer outro setor, visto que durante a trajetória deles nos estudos, foram instigados à desenvolver sua criatividade, senso crítico, observar todos os fatores que influenciam numa operação, e resolver problemas reais, com consequências reais, muito diferente de "pedrinho comprar 32 maçãs". Além de que, durante a formação destes alunos, quanto poderiam contribuir e desenvolver as atividades dentro das empresas onde eles estudam?

    O uso de materiais de fontes renováveis também deve ser muito bem planejado, moramos num país onde é muito comum utilizarmos na construção civil materiais de construção de origem mineral, não renovável, enquanto o correto manejo da terra pode nos fornecer grandes áreas de reflorestamento nos gerando materiais ilimitados, assim como a reciclagem de demais materiais e o desenvolvimento de novos compósitos sustentáveis, tanto para aplicação na construção civil, quanto para as demais engenharias. (Foi esta a inspiração para a imagem do post)

    Para finalizar a reflexão, temos ainda diversos outros assuntos para pensar, como as áreas de saúde e segurança por exemplo, as formas de expansão e replicabilidade destes módulos, as ligações entre eles, transporte, serviços que possam compartilhar entre si, locais onde poderiam ser aplicadas as primeiras cidades modelo, que na minha opinião, seriam perfeitamente aplicadas em locais onde já existe uma degradação do ambiente, como grandes fazendas de monocultura.

    Gostaria de acrescentar sua opinião à esta discussão? Os comentários aqui abaixo estão aguardando sua colaboração!

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